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quinta-feira, 7 de abril de 2011

Aspectos Espirituais e Científicos da Depressão nos Médiuns

Entrevista com  Dr. Roberto Lúcio Vieira de Souza, Especializado em Psiquiatria, Vice-Presidente da Associação Médico Espírita do Brasil, Psiquiatra e Psicoterapeuta do Instituto de Assistência Psíquica Renascimento (B.H) e Assessor de Pesquisas da AMEMG, ao Departamento de Orientação da Mediunidade da União Espírita Mineira  

1. Há alguma semelhança entre a depressão e a mediunidade atormentada?

R. Antes de mais nada é preciso que se defina o que seja depressão e o que se entender por mediunidade atormentada. Sem esse entendimento estaremos nos referindo a conceituações leigas, não necessariamente dentro dos aspectos que um estudo como esse pretende.
A expressão depressão encontra-se em voga na atualidade, usando-a não só no seu sentido verdadeiro, como também, no aspecto de stress ou mesmo no de esconder a verdadeira sintomatologia do indivíduo (alcoolismo, viciações, distúrbios de personalidade, etc.).
Leigamente, depressão significa tristeza, qualquer sentimento associado a contrariedade. No sentido patológico, o seu significado é mais amplo e suas nuanças das mais variadas. Depressão é um estado psíquico onde a criatura apresenta-se triste, sem interesse para as coisas que antes realizava ou buscava, além de falta de energia. Geralmente, ela é acompanhada de falta de apetite, insônia, perda do interesse sexual e da capacidade de trabalho. Nas suas formas mais graves, associa-se a um sentimento de ruína, um desejo de morte e até de auto-extermínio, chegando, nas melancolias involutivas, ao desinteresse tão grande da vida associado com conteúdos delirantes, que a criatura passa a acreditar ter partes do corpo mortas ou que ele próprio já morreu, passando o organismo a não absorver os nutrientes a ele oferecido. Algumas vezes, a depressão pode se apresentar mascarada, ocultando o sentimento de tristeza, deixando como forma de expressão a ansiedade ou diversos sintomas psicossomáticos, dando a impressão de uma verdadeira doença orgânica.
Esses processos depressivos podem ter as causas mais variadas, desde os distúrbios neuroquímicos, passando por patologias orgânicas e situações traumáticas, até as questões espirituais, em especial, as obsessivas.
Do ponto de vista espiritual, na sua condição mais íntima, o deprimido é uma criatura rebelde, ele não aceita os limites que a vida lhe impõe, recusa-se a aceitar suas provas e posiciona-se contra a divindade ao ver seus desejos ou vontades negados “pela vida”. Prefere morrer psiquicamente (apatia e a hipobulia) ou fisicamente( auto-extermínio ou o suicídio indireto)a viver conforme a Lei.
A expressão mediunidade atormentada leva-nos a pensar em diversas situações, nas quais a criatura portadora da faculdade mediúnica vê-se em sofrimento com a manifestação da mesma. Pode ocorrer nos médiuns iniciantes, onde a mediunidade de prova ou expiação carreia energias espirituais mais difíceis, oriundas de outras vivências da criatura. Surge, também, naqueles que recusam-se ao exercício da mesma por rebeldia ou preconceito; nos que trazem sua mediunidade vinculada a processos espirituais de ódio e vingança, com presença de entidades obsessoras; nas mediunidades associadas a patologias mentais, propiciando campo para as entidades sofredoras e zombeteiras; e nos casos em que o sensitivo abandone o seu trabalho de intercâmbio sem motivos justos, para seu bel prazer, onde a culpa, o compromisso assumido e a retenção dessas energias associadas a processos obsessivos provocarão as manifestações tormentosas.
Dentro desse leque de opções, tanto no sentido da depressão quanto no caso da mediunidade atormentada, poderemos encontrar vários pontos de intercessão entre a mediunidade conturbada e os processos depressivos. Necessariamente, estes últimos não têm que ser acompanhados da primeira, mas a mediunidade atormentada sempre apresentará aspectos depressivos.
Na presença de sintomatologia que identifique a depressão é importante que se procure um especialista que possa diferenciar os dois processos, introduzindo medicamentos e terapêuticas quando necessárias ou orientando para Casa Espírita e os tratamentos que se façam imprescindíveis ou, ainda, associando-os quando preciso.
No caso dos médiuns que se recusam a exercer sua faculdade mediúnica, numa expressão clara de rebeldia, provavelmente o processo depressivo estará presente ou se instalará, devido à postura rebelde da individualidade.

2. Por que os médiuns, quase em sua generalidade, apresentam distúrbios afetivos ?

R. Novamente, é preciso definirmos o que seja distúrbios afetivos, pois esse é um termo clínico, aceito nos meios acadêmicos, que identifica os quadros psicopatológicos caracterizados pela presença de alterações de humor desde os processos depressivos até os de mania (onde a criatura encontra-se em estado doentio de euforia) ou na presença de ambos intercalados ou simultâneos.Dentro desse ponto de vista, não é verdadeiro que os médiuns, em sua generalidade, sejam portadores de distúrbios afetivos.

Na realidade, a grande maioria dos médiuns são criaturas em processo de retomada da caminhada evolutiva, individualidades que se apresentam comprometidas com as leis morais, portadores de sérios distúrbios na área das emoções e dos sentimentos, tornando-os indivíduos afetivamente desequilibrados.
Esse desequilíbrio pode ser explicado, por outro lado, pela própria faculdade mediúnica, onde o intercâmbio vibracional sendo mais ostensivo provoca graves distorções nas manifestações afetivas dessas criaturas. Muitas das chamadas alterações de humor seriam de outros espíritos, que ao se vincularem àquele médium, fariam-no exteriorizar sentimentos não necessariamente presentes no seu campo psíquico, naquele momento.
Outro fator, merecedor de estudos mais profundos, seria a condição de organicidade da mediunidade. Certamente, existem estruturas, mediadores e mecanismos cerebrais, ainda pouco conhecidos por nós, dirigidos pelos centros vitais do perispírito, que interfeririam na condição emocional dos médiuns facilitando esses desequilíbrios.
O cérebro é “simples” computador que, estimulado eletroquimicamente, decodifica esses sinais, dando a consciência dos mais diversos fenômenos, sensações e sentimentos, que a criatura encarnada possa apresentar. Assim, para que o médium possa decodificar e expressar conscientemente as impressões recolhidas, durante o intercâmbio mediúnico, provavelmente, é necessário que sejam manipulados os canais cerebrais identificadores dessas mesmas vivências. Ou seja, é bem provável, que o mecanismo mediúnico envolva os mesmos mediadores químicos responsáveis pela depressão, quando da presença de um espírito deprimido, no campo de comunicação do medianeiro.
Esse mecanismo facilitaria alguns tipos de desequilíbrios emocionais para o sensitivo, no entanto, a presença da predisposição íntima para essas mesmas vivências só fará agravar as influenciações e os processos psíquicos doentios do médium serão de maior intensidade.

3. Os portadores de mediunidade apresentam um campo mental e cerebral propício às depressões? Por que?


R. Essa pergunta, dentro dos conhecimentos que possuímos não pode ser respondida claramente, já que sâo ainda desconhecidos os campos mentais e cerebrais dos médiuns. Entretanto, dentro do bom senso de que a mediunidade é uma faculdade neutra, não responsável pelos quadros psicopatológicos instalados nos médiuns, quando da ausência de obsessão, como afirma-nos Kardec em O Livro dos Médiuns, podemos verificar na prática dos consultórios psiquiátricos e dos centros espíritas, que nos é permitido ponderar que a faculdade mediúnica não predisponha ao ser viver essas formas doentias de sentir só por sua presença.

4. Um médium em crise depressiva aguda deve afastar-se do exercício mediúnico? Em caso afirmativo: por que? E por quanto tempo?

R. Como dissemos em outras respostas, existem depressões e depressões, ou seja, graus dos mais variados, precisando que seja feito um diagnóstico claro do quadro para uma posterior orientação ao médium. Para isso, é necessário procure-se um profissional da área, conhecedor da Doutrina Espírita, capaz de orientar em ambos os sentidos.
Nos seus graus mais simples, nos processos reativos, quando a criatura apresenta sintomas depressivos por problemáticas do cotidiano, sem ter a perda da capacidade de raciocínio e de trabalho, onde a depressão não impede as atividades diárias, acreditamos não haja necessidade de um afastamento do trabalho mediúnico.
Nos quadros agudos, onde ocorre uma desvitalização do medianeiro, com perda parcial ou total e temporária de sua condição “normal”, seria interessante um afastamento pelo menos por igual período do comprometimento, para evitar o desgaste psíquico e energético do mesmo, não o afastando, porém, de atividades doutrinárias outras capazes de auxiliá-lo em sua recuperação, como reuniões de estudos, utilização da fluidoterapia e atividades assistênciais.
Nos quadros mais graves, em especial, naqueles com presença de sintomas psicóticos é totalmente contra-indicada a participação em reunião de intercâmbio mediúnico. Se o doente já freqüentava a atividade deve ser afastado, mantendo-se em tratamento a distância, somente retornando em quadro de franca recuperação e por orientação de profissional espírita e dos orientadores dessas reuniões. Os pacientes que precisam manter-se no uso de anti-psicóticos por tempo indeterminado e cuja sintomatologia comprometa sua condição orgânica e mental, devem ser orientados a procurarem outro tipo de atividade doutrinária mais condizente com a sua situação atual.
É importante frisarmos que as reuniões de intercâmbio deveriam servir para a assistência aos desencarnados e não para o atendimento aos encarnados. A equipe mediúnica deve ser como uma equipe médica, na terra, afinada em seus propósitos e capacitada para o atendimento. O desequilíbrio de um dos seus participantes pode perturbar todo o grupo, afastando-o do seu real objetivo.
Um fato que precisa de reflexão, por parte da comunidade espírita, é sobre a dificuldade que os espiritistas, em sua maioria, têm de aceitarem procurar um psiquiatra ou psicólogo, quando diante de uma problemática no campo emocional. É claro, que existe um grande preconceito por parte da própria pessoa, mas, também, pelos companheiros de Casa Espírita, embasado num orgulho e vaidade, que não são condizentes com a nossa necessidade de reforma íntima. Esse tipo de ação só dificulta a recuperação da criatura.
A mediunidade não é panacéia. Vemos muitos dirigentes e espíritas indicarem o desenvolvimento mediúnico para qualquer um, por qualquer problema, como se o contato com as entidades espirituais fosse suficiente para terminar com todas as nossas mazelas.
Essa atitude (muitas vezes, cheia de melhor intenção) é por si só perigosa, quando não leviana, sendo a causadora de muitas das agressões que são dirigidas ao Espiritismo, fruto do pouco estudo e reflexão sobre tema tão importante dentro do Movimento Espírita.


5. A obsessão pode causar ou agravar um caso de depressão? Como se dá a atuação dos obsessores em nível dos neurotransmissores?

R. Sim. Os processos obsessivos podem causar e agravar os quadros depressivos.
Talvez, fosse mais interessante que substituíssemos a palavra causar por induzir, já que toda obsessão começa no campo mental da criatura, que por culpa ou invigilância, predispõem-se a ação maléfica de entidades espirituais sofredoras.
Quanto a ação de entidades espirituais à nível de neurotransmissores, ela deve ocorrer sempre, por ação indireta, como falávamos em outra questão, e estar presente, por atuação consciente, quando da presença de entidades do mundo inferior de profundo conhecimento do assunto. Seriam cientistas do Mundo espiritual  inferior, a atuarem por estímulos eletroquímicos nos sistemas cerebrais específicos, que controlam o humor, bloqueando ou estimulando a produção de determinadas substâncias, ou seja, os neurotransmissores.

6. Se um desencarnado estiver em depressão , o médium poderá assimilar esse quadro?

R. Certamente. E essa assimilação terá uma relação direta com o grau de relacionamento e sintonia entre encarnado e desencarnado. Sendo assim, a presença de culpa, a predisposição orgânica e mental, a sensibilidade mediúnica e a invigilância, nas ações do cotidiano, serão elementos determinadores dessa assimilação.
Essa ação espiritual poderá ser temporária ou crônica, de conformidade com o estado de sintonia do médium.


7. A oração tem uma ação profilática sobre os neurotransmissores cerebrais?


R. Recordando-nos do Mestre Jesus, ao afirmar-nos que “tudo que pedirmos em oração, ser-nos-á dado”, acreditamos que o estado vibratório oriundo de uma prece sentida, em toda a sua expressão, é capaz de movimentar estruturas e mecanismos, em nosso organismo, levando-nos aos estados mais sadios, de nossa condição evolutiva.

8. O exercício mediúnico correto é fator de equilíbrio nas depressões? Por quê?

R. Como dissemos anteriormente, não acreditamos que o exercício mediúnico deva ser usado como forma de tratamento para as criaturas que estejam passando pelos processos depressivos mais sérios. No entanto, o exercício correto da mediunidade com Jesus é instrumento profilático para nossa mente, diminuindo nossa propensão aos processos patológicos de toda monta ou proporcionando-nos melhores condições de enfrentarmos nossas provas.
A mediunidade equilibrada oferece ensinamentos vários aos portadores dessa faculdade, entre esses, o do contato com a dor do outro, que entendida e auxiliada, criará para nós uma aura de harmonia e saúde.
O médium, ao assumir espontaneamente o seu trabalho, foge de suas atitudes pretéritas de rebeldia e egoísmo, e assim, afasta-se das causas espirituais da depressão.

9. O tratamento da depressão pode ser feito somente utilizando-se da terapêutica espírita dos passes e água fluida , dispensando o tratamento médico?


R. O homem é um ser integral, uma entidade triunitária, composta de espírito, perispírito e corpo físico; necessita, portanto, de um tratamento que o atenda em todos os seguimentos do seu ser. Da mesma forma que ocorre uma lacuna na assistência quando o facultativo materialista se atêm ao atendimento do corpo físico, o espírita que não cuida do seu instrumento orgânico deixa por desejar.
A busca de assistência espiritual ostensiva, quando a medicina terrestre já possui formas de assistência positivas, é uma maneira de ocupar os espíritos superiores, com tarefas para as quais já estariam dispensados, ocupando-lhes uma fração de tempo, que poderia ser utilizada em trabalhos, que só eles podem realizar.
Por outro lado, a não utilização das orientações espirituais, nos casos de doenças para as quais a medicina ainda não tem tratamento ou que não encontramos solução adequada, é sinal de falta de fé ou da presença de orgulho. E tanto uma como a outra situação exige-nos ponderação e mudança íntima.

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