José Raul Teixeira
Pergunta: Se é verdade que a cada um é dado segundo
suas necessidades e ou méritos, qual parece ser o melhor proceder para as
pessoas que se interessam por política saudável e consciente: viver sua vida
privada da melhor maneira possível ou dedicar seu tempo às questões políticas,
sociais e etc?
Raul: Essas coisas se acham interligadas desde que o velho
Platão estabelece que o ser humano é um animal político. Em todas as nossas
ações na sociedade está o sabor da nossa participação política. Mesmo aqueles
que se dizem apolíticos já estão apresentando a sua posição política. Eles são
apolíticos e essa é uma posição política: eles querem dizer que não se
envolvem, e isto é um posicionamento dos mais horrendos, por sinal.
É como se nós vivêssemos numa casa e, quando alguém nos
apontasse para a necessidade da sua higiene a gente dissesse “eu não quero nem saber, eu sou amoradia”;
quando alguém nos dissesse que
precisamos pintar: “eu não quero nem
saber, eu detesto moradias”; quando alguém falasse que a casa está caindo: “não é nem comigo”. Será com quem? Com
os vizinhos? Então normalmente quando as pessoas dizem que são apolíticas elas
podem querer dizer que são apartidárias, aí sim.
Há pessoas que gostam de esportes mas não torcem por time
nenhum, gostam de todos; há pessoas que gostam de política, enquanto ciência,
enquanto doutrina, enquanto filosofia,
mas abominam partidarismos políticos.
Então essa pessoa terá, na sua vida comum, posturas políticas que
conhece, em função do seu filosofar político, mas não está dando importância a
esses partidarismos que, principalmente no Brasil, perderam a sua grandeza
ideológica, passaram a ser tendas de conveniência que as pessoas não respeitam.
É impossível que alguém que seja socialista hoje, amanhã já
será capitalista. É sinal que ele nunca foi nada, era daqueles que tiram
proveito do posicionamento político da sociedade.
Então será importante que nós trabalhemos em torno de uma
ideologia política, de uma doutrina política. O que é importante para nosso
Estado, para a nossa cidade. Se sabemos disso, então vamos trabalhar para isso,
seja na minha ação voluntária na sociedade, seja na minha ação profissional,
seja na minha ação de cidadania elegendo meus representantes nas Casas de Leis
dos poderes constituídos. Vou fazer valer a minha participação de forma
consciente, lúcida, madura, sem vender meu voto, sem trocá-lo por
conveniências. Quando fizermos isso, estaremos mostrando uma maturidade nas
nossas concepções políticas. Quando estiver vendendo meu voto por isso ou por
aquilo, eu ainda não terei alcançado a política enquanto doutrina, enquanto
filosofia; estarei nas bases da politicagem, querendo tirar proveitos. E se eu
quero tirar proveito às custas do erário, eu vou ter que devolver. Não
esqueçamos que tudo aquilo que eu ganhar fora dos esforços do meu trabalho,
terei que devolver, não me pertence. Tudo que alguém me der e que também a ele
não pertença terei que devolver. Teremos sido receptores de artigos furtados ou
roubados e deste modo seremos réus de juízo também.
Logo, nossa participação política não será apenas no dia de
eleição ou nos dias de eleições. Participação política é saber cobrar as coisas
que estão acontecendo erradamente na sociedade, saber ir para os jornais, saber
ir ao nosso Vereador, ao nosso Deputado, ao nosso Governador, escrever nos
jornais, na coluna dos eleitores, participar dizendo, falando, não adotar
aquela postura “não vai adiantar nada”.
Não vai adiantar se meia dúzia fizer, mas se a nossa Associação de bairro,
Associação de moradores, a OAB, os órgãos, as Igrejas, se nós nos unirmos
enquanto organismos da sociedade, as coisas mudam. Essa é a fé do indivíduo político.
Ele sabe como cobrar, ele sabe como pressionar. É importante que saibamos
cobrar os nossos direitos. Não podemos olvidar do cumprimento dos nossos
deveres. Então, quem cumpre deveres e cobra seus direitos é um cidadão
politicamente correto.